quarta-feira, 17 de março de 2010

“Tenho meus olhos quentes de lágrimas”

Hoje tenho os “meus olhos quentes de lágrimas” (Fernando Pessoa) e não os consigo arrefecer. Tento a todo o custo que a água saia, mas não… Ela fica nos meus olhos, tal como a mágoa, a dor e a solidão no meu coração.
O meu coração… Ah, esse sim chora. Chora tanto que dentro de mim corre um rio. Não um rio de água doce, mas um rio de água salgada.
Mas porque é que as lágrimas não caiem e não deixam os meus olhos arrefecer?
Hoje há nevoeiro. Estava um dia tão bonito ontem! Lembro-me, perfeitamente, que ao olhar para o sol até tive que fechar os olhos. O sol estava tão forte que não me deixou contemplá-lo, olhá-lo com atenção para depois poder apreciá-lo e guardar essa imagem no meu coração que só bate… agora… só por bater.
Mas hoje há nevoeiro. Para onde foi o sol? Lembro-me que ao fim do dia, já não era tão forte. Tentei olhá-lo, para o poder guardar no meu coração, mas já era pôr-do-sol e por mais que eu tentasse não o podia impedir de ir… E de repente foi-se… Como é que se foi? Porquê? Não percebo! Só o vi partir…
Caiam lágrimas, por favor, eu preciso de arrefecer os meus olhos!
E agora que estou no nevoeiro? Para onde vou? O que faço aqui? Se ao menos chovesse… A chuva… A chuva faz-me lembrar tanta coisa.
Ah mas as lágrimas não caiem… Porque é que está tudo contra mim? Não vêem que estou no meio do nevoeiro?
O que faço no nevoeiro? Não consigo ver nada. Não consigo pensar.
Conheço um sítio onde há muito sol, mas não posso ir para lá. Não me querem lá. Podia tentar mas posso-me queimar. Posso queimar o meu coração.
Sol, afinal quem és tu? Porque é que me iluminas e me queimas? O que queres de mim? Iluminar-me? Ou queres queimar-me? Não, não quero ouvir a resposta.
O nevoeiro aumenta … Já não aguento mais! Vou procurar esse sítio onde há sol. Vou, já decidi! Quem sabe se me querem lá. Vou a correr, mas tropeço, vacilo e já não me consigo levantar. Vou ficar aqui! Vou voltar a ver-te, ó sol que me iluminas e me queimas? Não sei… Pode ser que um dia o nevoeiro desapareça.
Uma lágrima a cair… E mais uma… Caiem… Estão a cair! Escorrem-me no rosto. Mas não resolve. A mágoa não passa, dura, dura, dura…

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